Conversa com Luísa Soares Oliveira, João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira
7 outubro 2022

Conversa com Luísa Soares Oliveira, curadora da exposição Entre as Palavras e os Silêncios e João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira, dupla de artistas que tem na exposição duas obras representativas desse projeto realizado em conjunto: a elaboração de uma iconografia rigorosa, completa e profunda sobre a realidade – atual e histórica – da comunidade gay em Portugal.

Data 7 de outubro | sexta-feira
Horário 19h00
Duração 60 minutos
Acesso gratuito

A participação requer inscrição através do formulário AQUI.

Para mais informações, contactar +351 256 004 190 ou centrodearteoliva@cm-sjm.pt

 

João Pedro Vale e Nuno Alexandre Ferreira é uma dupla de artistas que abdica por isso da individualidade de cada um para assinar todos os projectos que realizam em conjunto, entre os quais as duas peças que estão inseridas na exposição. João Pedro Vale nasceu em 1976, tendo-se licenciado pela ESBAL. Posteriormente, frequentou também a escola Maumaus. Nuno Alexandre Ferreira, por seu lado, nasceu em 1973, e estudou Sociologia na Universidade Nova de Lisboa. Têm, por isso, formações muito diversas, o que traz características particulares aos seus trabalhos.

João Pedro Vale começou a expor em 2001, numa galeria holandesa. Em Portugal, logo no ano seguinte, mostrou trabalhos na Módulo, em Lisboa, e no Artes em Partes, no Porto. Na altura, tratava-se de escultura que aliava objectos facilmente identificáveis com materiais pouco habituais, como o sabão em barra ou a pastilha elástica. Mais tarde, já a trabalhar com a Galeria Filomena Soares, realizou uma grande exposição temática onde tratava já de um tema de cariz histórica e sociológica – a saber, a identidade portuguesa construída com base na época da expansão ultramarina. A exposição intitulava-se “Nascido a 5 de Outubro”, e teve lugar em 2007.

Paralelamente, multiplicavam-se os projectos muito bem concebidos e realizados, apresentados em Portugal e no estrangeiro. A partir de 2004 trabalha sempre em parceria com Nuno Alexandre Ferreira. Os projectos que ambos assinam incluem, por exemplo, escultura, fotografia, filme e performance. Produzem exposições elaboradas, como, por exemplo, Hero, Captain and Stranger, que esteve no Cine Paraíso, em Lisboa, no Museu Coleção Berardo e no SVA Theater em Nova Iorque. Criaram também o projecto BREGAS (2014), com sede no seu atelier em Xabregas, que não se limitava à produção de uma peça artística, mas que envolvia a comunidade de amigos e artistas com quem partilhavam objetivos e interesses. Têm produzidos espectáculos apresentados em diversas cidades e palcos (Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Camões, Rivoli, São Luís, Teatro Praga, entre muitos outros).

O seu projecto mais recente foi apresentado entre fevereiro e abril de 2022 e intitulou-se 1983. Tratou-se de uma performance feita no Rialto 6, o espaço de exposições dos colecionadores Armando e Maria João Cabral. A performance referia-se explicitamente ao ano em que as primeiras notícias sobre HIV/SIDA foram divulgadas em Portugal. O espaço de exposições localiza-se numa zona de Lisboa que em tempos foi conhecida pela actividade de prostituição homossexual; a performance, onde os dois artistas assumiam os estereótipos ligados à imagem do homossexual, desenvolvia-se em torno de uma reflexão sobre a decadência física, a estigmatização, a doença e, por fim, corolário de tudo isto, a morte. De certa forma, tratava-se de mais uma peça no projecto global da obra destes dois artistas: a elaboração de uma iconografia rigorosa, completíssima e profunda sobre a realidade – actual e histórica – da comunidade gay em Portugal.

Luísa Soares Oliveira, 2022