Coleção de Arte Bruta – Treger Saint Silvestre

A Coleção Treger Saint Silvestre foi iniciada na década de 1980 por Richard Treger e António Saint Silvestre, sendo uma das mais relevantes coleções europeias de arte bruta. É constituída por aproximadamente mil e quinhentas obras de trezentos e cinquenta artistas, refletindo a evolução de diferentes momentos históricos e ramificações das artes marginais aos circuitos do sistema artístico estabelecido, desde os clássicos da Arte Bruta à Arte Outsider e suas variantes. A coleção distingue-se particularmente pela sua grande amplitude cronológica, demarcada por artistas nascidos em finais do século XIX até autores ativos na atualidade. Diferencia-se também pela alargada representatividade geográfica, que abrange os tradicionais “centros da arte bruta” da Europa Ocidental e América do Norte, expandindo-se a artistas oriundos de África, Ásia, Europa de Leste, Central e do Sul e América Latina Central, salientando-se a diversidade de artistas portugueses e brasileiros. A coleção inclui uma grande variedade de técnicas e materiais, incluindo pintura, desenho, escultura, cerâmica, tapeçaria, fotografia, mecanismos elétricos, objetos recuperados e materiais atípicos como matérias orgânicas. A coleção encontra-se em depósito de longo prazo no Centro de Arte Oliva desde 2014, onde tem sido apresentada através de um programa contínuo de exposições temporárias. Website da coleção

O conceito de Arte Bruta foi criado pelo artista francês Jean Dubuffet (1901-1985) para designar a criação artística livre, distanciada dos valores canónicos e eruditos das belas-artes. Autor de vários textos de contra-cultura, Dubuffet procurou suscitar uma mudança radical no paradigma da cultura artística europeia e mais tarde na americana. Em 1945, Dubuffet começou a identificar, adquirir e documentar obras realizadas por crianças, pessoas institucionalizadas em prisões ou hospícios, excêntricos, místicos e pessoas isoladas da sociedade, procurando reunir nessa coleção fundadora um compêndio do seu pensamento. A coleção criada por Dubuffet esteve sediada nos Estados Unidos da América entre 1951 a 1962, onde surtiu impacto sobre uma alargada comunidade artística. De regresso à Europa, a coleção foi doada a Lausanne (Suíça) e é atualmente designada como Coleção de Arte Bruta Lausanne.
A posição de Dubuffet tem antecedentes no início do século XX quando artistas, psiquiatras e outros teóricos passam a interessar-se por expressões visuais primordiais, que conduzem à valorização ou estudo de imagens criadas por crianças e doentes mentais. Entre os estudos realizados por distintos autores nas primeiras décadas de 1900, é fundamental a investigação apresentada em 1922 por Hans Prinzhorn (1886-1933), psiquiatra e historiador de arte, que também reuniu um vasto acervo no hospital; e já anteriormente no quadro de emergência das vanguardas artísticas, em textos e obras de artistas, particularmente de Paul Klee (1879-1940) e Max Ernst (1891-1976). Em 1972, foi introduzido por Roger Cardinal o termo Arte Outsider com o objetivo de criar um equivalente para Art Brut na língua inglesa. Atualmente esta configura-se como a expressão predominante para identificar a produção artística criada nas margens do sistema artístico, sendo mais abrangente e podendo ser aplicada à arte popular, arte singular, arte não ocidental e outras subcategorias.

Franco Bellucci. Sem título, c. 2008 © André Rocha

Damián Valdés Dilla. Sem título, 2015 © André Rocha

Henry Darger. The Glandelinians caught in the act by the ferocious Lagorian girl scouts, 1930-1950 © André Rocha

Karl Hans Janke. Naturzeugung des Menschen, 1975. Cortesia: Delmes & Zander Gallery

Fleury-Joseph Crépin. Sem título, 1940 © Dinis Santos

Agnès Baillon. Femme Canibale, 2002 © André Rocha

Franco Bellucci. Sem título, c. 2008 © André Rocha

Damián Valdés Dilla. Sem título, 2015 © André Rocha

Henry Darger. The Glandelinians caught in the act by the ferocious Lagorian girl scouts, 1930-1950 © André Rocha

Karl Hans Janke. Naturzeugung des Menschen, 1975. Cortesia: Delmes & Zander Gallery

Fleury-Joseph Crépin. Sem título, 1940 © Dinis Santos

Agnès Baillon. Femme Canibale, 2002 © André Rocha